Greta Lovisa Gustafsson, mais
conhecida como Greta Garbo veio para os EUA em 1925, para trabalhar em
hollywood a convite de Louis B.Mayer, o poderoso magnata do estúdio MGM. Junto
com ela veio seu amigo finlandês Mauritz Stiller, que foi o primeiro a dirigir
um filme estrelado por Greta e também o principal motivo da atriz ter sido
convidada por Mayer para fazer filmes na América. Mas, inicialmente a jovem
sueca (Greta estava então com 19 anos) não se encaixava nos padrões estéticos
de hollywood e teve que ser “remodelada” para se adequar a eles. Garbo perdeu
peso, fez reparos nos dentes e alisou o cabelo para finalmente poder
interpretar o seu primeiro papel em um filme americano em 1926 ,chamado “Os
proscritos”.
De todas as coisas que li sobre a Greta Garbo, boas e ruins, me fez
construir em minha mente não um personagem, mas um ser humano, com erros e
acertos, sem maquineísmos, uma pessoa como qualquer outra. De personalidade
tímida e retraída, que odiava os holofotes, e que ao mesmo tempo teve contato com personalidades fortes e ilustres como Wilson Churchill. Foi admirada
e procurada por outras figuras famosas como Jacqueline Kennedy,
Como toda mente humana, sua personalidade se contradizia, pois por mais
que odiasse as multidões e os paparazzis, escolheu como profissão ser atriz, e
fazer parte de um dos maiores estúdios de filme da época. Endossou fofocas de
todos os tipos, com homens e mulheres, e ao mesmo tempo que afastava as
pessoas, parecia que seu mistério produzia um magnetismo nos mesmos ,que se
viam atraídos por um olhar melancólico e sincero recato, que talvez nunca tenha
sido a intenção de Garbo.
Bem
longe de fazer um relato psicológico da grande atriz Greta Garbo, minha
intenção é falar no que esta personalidade teve de revolucionária na década de
20 até a sua morte, o que trouxe para nós nos dias de hoje que nos causa tanta
admiração, seja pela sua coragem em viver a vida que desejava, seja por tomar
atitudes que na época eram vistas com preconceito.
Podemos
dizer que Greta Garbo causou muita polêmica, principalmente no período que
ainda estava em evidência na mídia, tanto pelas suas supostas amizades e
relacionamentos com homossexuais da época(como Mercedes de Acosta, da qual
trocou cartas durante muitos anos), tanto quanto pelos seus supostos casos .
Apesar de nunca ter dado uma entrevista em que assumisse nada (durante sua vida
toda concedeu apenas 14 entrevistas) e de deixar guardado a sete chaves sua
vida pessoal, muitas especulações foram
feitas sobre sua sexualidade. Acreditava-se que fosse bissexual e que em
diferentes períodos da vida tenha se relacionado ora com homes, ora com
mulheres.
Algumas de suas ações poderiam projetá-la também como uam figura
importante para o feminismo. Já na primeira metade do século XX questionou as noções tradicionais de gênero,
ao fazer uso de calças, que na época era considerado pouco feminino. De fato a
calça só passou a ser usada pelas mulheres a partir da 1º Guerra Mundial, pela
necessidade das mulheres de trabalharem, já que seus maridos e pais se
encontravam na guerra. Essa peça de roupa era vista muito mais como uma
necessidade do tempo do que realmente como uma roupa feminina. No entanto, com
a 2º Guerra Mundial e também com o uso
constante por estrelas do cinema como Marlene Dietrich e Katharine Hepburn, e
pela estilista Coco Channel, as calças femininas passaram a ser largamente
difundidas e mais modelos criados.
Outra prova de seu questionamento dos papéis que eram impostos à mulher
na sociedade de então, foi o desejo constante por fazer papéis masculinos no
cinema, como o personagem Dorian Gray, magistralmente criado por Oscar Wilde e
o clássico Hamlet de Shakespeare. Mas infelizmente nunca conseguiu com que a
MGM aceitasse produzir um filme no qual Greta fosse descontruir toda a imagem
que havia sido habilmente construída para ela: a de moça lânguida, feminina, um
ícone daquilo que deveria ser mulher até meados do século passado.
Mais revolucionário, no entanto, que todas as decisões tomadas por
Garbo, foi sua omissão. Ao se permitir nunca entrar em um casamento, em um
período que as mulheres ainda sofriam muita opressão para serem verdadeiras
mantenedoras do lar e por desempenharem seus papéis como “bibelôs da casa”,
Greta quebra um “paradigma” sexista de seu tempo. Mesmo tendo se relacionado
com diversas pessoas ao longo da vida, Garbo nunca se casou, sendo que
propostas não faltaram (como a do milionário grego Aristóteles Onassis).
Sabendo que sua timidez, solidão, melancolia e possíveis momentos de depressão
não se conjugariam bem com o que poderia se esperar dela em um casamento,
preferiu que seus relacionamentos interpessoais nunca chegassem a ser um
compromisso timbrado em papel.
Em nenhum momento pretendo dizer, no entanto, que a coragem dessa
mulher era do tipo pensado, pelo contrário, já que pela sua biografia
percebemos que viveu reclusa muito tempo em seu apartamento em Nova York com
medo de ser reconhecida na rua e virar notícia de tablóide. Mas como havia
dito, é uma personalidade contraditória, e ao mesmo tempo que havia aspectos de
covardia em si, havia coragem em outros. Acredita-se que tenha inclusive feito
2 abortos quando ainda estava nos estúdios MGM e pagos por este, em um período
em que os métodos contraceptivos ainda eram muito primitivos e ainda não
existia a pílula (criada na década de 60). Podemos imaginar como deveria ser
difícil para uma mulher se submeter a tal procedimento em um período em que o aborto
ainda era ilegal nos EUA (só foi legalizado em 1973) e que não existia todo o
aparato atual da medicina para tornar o procedimento rápido e seguro.
Finalizo esse texto concluindo
que o feminismo é muito mais do que uma ideia que se contrapõe ao patriarcalismo,
ao sexismo e a misoginia. O feminismo ele surge de pessoas como Greta Garbo,
que através de suas escolhas de vida, contrariaram completamente os papéis que
a sociedade tentou lhes atribuir. Ele surge assim como uma forma de ver e viver
a vida que não se prende a padrões predeterminados do que é ser homem ou do que
é ser mulher. Ele tem em vista que cada um deve e pode desempenhar o papel que
quiser em sua própria vida. E nesse sentido Greta Lovisa Gustafsson
soube fazer isso muito bem.
P.S.: Agora esse artigo estará disponível na revista Obvious: http://obviousmag.org/escritos_desafinados/2015/02/greta-garbo-e-o-feminismo-no-seculo-xx.html
E quem quiser poderá acompanhar outros artigos meus através da Obvious: http://obviousmag.org/escritos_desafinados/autor/
E quem quiser poderá acompanhar outros artigos meus através da Obvious: http://obviousmag.org/escritos_desafinados/autor/
Ah, ela ficaria maravilhosa de Dorian Gray!
ResponderExcluirFicaria, assim como de Hamlet que ia combinar muito com ela!
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