domingo, 30 de janeiro de 2022

A mulher Elza

 

Muitas pessoas quando falam da morte da Elza Soares, falam, inevitavelmente, do Garrincha, tanto, acredito, por ser este um ídolo brasileiro do futebol, mas também como aquela atitude típica de nossa sociedade: a de sempre ver as mulheres em relação a seus parceiros, quase como se fóssemos meros apêndices dos homens.

Em 2021, eu fiz um curso dado pela Pinacotece de São Paulo sobre as mulheres no acervo da Pinacotece e me impressionou em como várias artistas com obras imensamente interessantes só eram conhecidas por ser mulheres ou amantes de determinados pintores. É como se toda a sua trajetória, seus feitos, personalidades fossem colocados em relação ao pintor, como se não existisse uma vida e personalidade independente , elas eram meros apêndices de pintores famosos brasileiros.

Já em 2022, quando da morte da Elza Soares, a história dessas mulheres me veio à mente. Pensei em como tantas e tantas mulheres foram relegadas pela história da arte e pela história brasileira oficial para dar lugar à exaltação de homens; e como esse discurso se perpetua até hoje.

No youtube, ouvi no canal do Paulo Rezzuti um vídeo sobre a imperatriz Teresa Cristina. Nele, o escritor mostra como foi contruída uma imagem histórica de uma mulher apagada, sem nenhum protagonismo. É quase como se Teresa Cristina aparecesse na história, unicamente, por ser mulher de  D.Pedro II. Todas as suas características pessoais ficaram apagadas para a construção de uma figura pública que não poderia ofuscar o imperador.

Em pleno século XXI, os mesmo discursos retrógrados continuam sendo propagados e mulheres continuam sendo colocadas à margem a favor de algum homem. Não há interesse em contar suas histórias e em vê-las sob outros viés, que não o de mães e esposas. Esse reducionismo, aparentemente bobo, que é recorrente em todos os períodos da sociedade ocidental, acaba construindo uma "imagem" da mulher na história, sempre em contraponto ao homem.

Ao falar de Elza como "a mulher do Garrincha" em seu obituário, diminuimos, minimizamos a cantora que foi, sua importância para a música brasileira, para o feminismo, para a luta negra e LGBT. Dessa forma, apagamos todo o seu percurso para encaixá-la no papel da "esposa de alguém importante". Essa associação ao nome do Garrincha tem um peso ainda maior quando lembramos que o motivo da separação do casal, foi porque ele batia nela.

Não, não consigo aceitar que Elza, com todo o peso que seu nome carrega, seja lembrada em associação com quem, em vida, ela fez questão de se afastar. Com quem em um acidente de carro, estando alcoolizado, foi responsável pela morte de sua mãe.

Em que sociedade, minimamente sadia, faríamos uma homenagem a um ser humano ímpar, enaltecendo justamente o  casamento que teve com um homem abusivo e responsável pela morte de sua própria mãe? Em uma sociedade sã, só mencionaríamos Garrincha para falar do horror, da opressão que mulheres como Elza viveram e vivem dentro dos próprios lares com seus parceiros. Usaríamos Garrincha apenas como exemplo dos execráveis casos de violência doméstica que terminaram em impunidade para o homem; e em como esses ainda são brindados com uma imagem benevolente na história brasileira.

É um horror termos que todo dia dizer o óbvio, mas quando a realidade se encontra cada vez mais distorcida e os valores éticos e morais cada vez mais deturpados, é necessário que expliquemos a verdade retumbante, é preciso que enfatizemos o óbvio, para que não se use das desculpas mais esdrúxulas para realizar a defesa do que não deveria de maneira alguma ser defendido. Violência doméstica é crime e sentimentos de posse e de coisificação da mulher não devem e não podem nunca ser confundidos com amor. O amor é generoso, carinhoso, compreensivo. O amor diz respeito à partilha, a dar a liberdade do outro de ser quem ele é. Todos somos ou deveríamos ser livres, de qualquer amarra emocional ou física. O amor não se confunde com violência e a violência não se justifica, se combate.

Editado em: 23/07/2023

sábado, 29 de janeiro de 2022

Pulso de vida e de morte

Caminhamos na corda bamba entre a vida e a morte 
Nos equilibramos diante do pulso de vida e de morte 
E qualquer desiquilíbrio na linha da vida 
Pode significar uma perda irreversível 
De nosso bem mais valioso, ora ser insubstituível 

Como neófitos caminhamos como se fôssemos imortais, 
Mas nos sabemos mortais 
No entanto, às vezes é preciso enganar a realidade, 
Escapar dos fatos para viver entre sonhos 

Nos sabemos poeira do cosmo 
No entanto, nos enganamos achando que somos estrelas 
Astros quase eternos, de tempos passados 
Sombras de entidades já desfeitas no universo
 
Sonhamos e acreditamos e nos enganamos 
É preciso, para a todo instante encontrar beleza no que nos resta 
Na flor de Maio e de Outubro 
Na breve joaninha se alimentando do parasita em uma flor 
No céu de verão laranja infinito 
No mar de ressaca de tempestade 
No mármore esculpido em carne 
Na beleza que se constrói e que foi construída 
No piscar de um raro vagalume à noite 

Sim, nos alimentamos dessas pequenas esperanças, 
Dessas pequenas sutilezas, visões, cheiros, cantos, 
O que nos faz despertar todo dia para um novo amanhã, 
Incerto, certo, uma constante dúvida, 
Carregada de expectativa, temores, 
Aguardada, desprezada, irrequieta 
Vida

O que aprendi tendo minha própria horta orgânica?

O que aprendi tendo minha própria horta orgânica? 

    Aprendi que primeiro é bem mais difícil de se ter qualquer tipo de planta em um ambiente controlado, pois apesar da mãe natureza ser sábia, ela é também uma cretina e aquele sua plantinha que fica super bem dentro de casa, se vc for plantar ela na terra, é bem provável que ela seja atacada por inúmeras pragas. Aqui o meu maior problema são as formigas, apesar do benefício de serem grandes decompositores e afofarem a terra, eles conseguem destruir uma parreira inteira em um único dia.             Aprendi que dá para ser auto-sustentável no manejo com suas plantas, mas que dá trabalho. Você pode compostar e existe uma variedade grande de compostagens que você pode fazer, com uma série de produtos que podem ser pegos de graça, como folhas secas, gramas secas, etc... Você pode utilizar como adubo o esterco dos mais variados animais: coelhos, galinhas, bois, codornas, etc...ou você pode usar a mamona para fazer torta de mamona, ou calcinar os restos de ossos de animais que você come no dia a dia e fazer uma bela farinha de osso. Ou ainda, você pode usar cascas de alimentos, borras de café, deixar fermentar e produzir seu próprio adubo líquido. Você pode ainda usar as cinzas de madeira como adubo, cascas de ovo como fonte de cálcio, que ajuda como adubo, mas também a não deixa o solo tão ácido. 
    Aprendi que não se pode ter muito apego às plantas, pois algumas são sazonais e vão dar seus frutos e logo depois se vão, como os tomates, que podem dar até umas 2 ou 3 colheitas no máximo ou algumas espécies de framboesas. Ou, ainda, perdas podem ocorrer pelo excesso de chuva e,logo, umidade, por ventanias, por excesso de calor (quando ficam esturricadas) ou, a hipótese que me deixa mais chateada, quando alguma praga devasta a planta, como é o caso de gafanhotos e formigas, que praticamente depenam a planta. 
    Aprendi que cansa, também, e dá trabalho, pois você tem que estar sempre cuidando das ervas daninhas para não crescerem em volta, você tem que estar atenta às doenças e pragas que a planta pode ter, você tem que adubar periodicamente, regar, às vezes, também, podar e não deixar os frutos, legumes, verduras passarem do ponto. 
     No entanto, apesar do trabalho a gente percebe a diferença do alimento orgânico quando a gente come um tomate colhido do quintal, uma cenoura, um morango, um pêssego, um pimentão, que têm um sabor completamente diferente do que a gente compra em mercado. Depois de experimentar certos alimentos, o do mercado parece insosso, todos parecem sem um doce e saber acentuado que vc tem nos alimentos orgânicos e frescos. 
    A minha mãe tem alguns pés de banabeira que já possuem alguns anos e sempre estão produzindo bananas sem nunca termos adubado, mas apenas com as jacas que caem da jaqueira ao lado e as folhas que caem da jaqueira, ela fica com o solo ao redor dela muito nutritivo e é assim que acontece na natureza normalmente. E, essa bananeira que produz banana d´água possui uma banana divina e quando um cacho está pronto pra ser retirado a gente experimenta a melhor banana que já comemos na vida e é tanta banana que dá para oferecer para várias pessoas e ainda sobra muita para fazer diversas receitas. Ano passado mesmo fizemos um recheio de banana e congelamos para usar em panquecas, pois foi uma forma de não estragar as maravilhosas bananas. 
    Eu aprendi muita coisa errando e, às vezes, errando ainda mais, pra enfim acertar ou não acertar nunca. Por exemplo, ainda estou na minha saga com as formigas. Mas o mais importante que aprendi é dar valor a quem produz orgânicos e quem produz e coloca os alimentos em nossa mesa e, o mais importante, é que quanto mais perto de quem produz o seu alimento, mais fresco ele é. Não existe maneira de transporta alimentos a grandes distâncias e por dias sem que se usem produtos que vão manter o alimento ainda fresco, por isso valorize as feiras locais de produtores locais. Frequentem os lugares onde as pessoas produzem geléias, pães, pastinhas, pois você estará incentivando o trabalho de pessoas com pequenos negócios e incentivando a outras pessoas a também a criar seus negócios. E, tudo que for mais natural, menos processado, mais caseira, sem conservantes será minimamente mais saudável do que alguns dos produtos que adquirimos no mercado. Fora que em vez de encher o rabo de dinheiro de grandes corporações, estaremos ajudando quem precisa mais, que o empresário individual, o agricultor familiar, etc.... 
    Enfim....depois de um bom tempo me aventurando por esse mundo, descobri que vou abandonar os projetos grandiosos com minhas plantações orgânicos, pois, infelizmente, não tenho tanto tempo pra me dividir em tantas tarefas que a quantidade de plantas que eu tenho aqui exigem e que demandaria pagar alguma pessoa para ajudar nos cuidados das minhas plantas, e que no momento não posso pagar. Mas tenho certeza que no final eu aprendi muito e sem sombra de dúvida no futuro voltarei a comprar alimentos orgânicos e, se possível, dos do MST, que possuem um preço, geralmente, mais acessível.

 Estou lendo o livro da Mónica Ojeda, chamado Madíbula. É um livro incrível no sentido de que, mesmo eu já tendo muitas coisas que me arrepi...