segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Quando nada faz sentido ou quando tudo faz sentido


Esperemos

Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.
(Pablo Neruda)

    Acho que na verdade essa postagem deveria se chamar "Decepções" já que descreve bem o momento. Apesar disso, nunca me achei uma pessoa que se decepcionasse fácil com as coisas e as pessoas, porque cresci com minha mãe se lamentando o tanto que se decepcionava com as pessoas e na verdade comecei a analisar isso desde cedo e via que o grande problema era esperar que as coisas funcionassem como ela previa. Descobri que as coisas e as pessoas, o mundo num geral não funciona de acordo com o nosso roteiro que criamos em nossa cabeça. Na verdade a vida não tem roteiro, uma grande surpresa! A vida nos leva por caminhos que não esperamos e não imaginamos e quando olhamos para trás, já não conseguimos mais nem nos ver como as pessoas que já fomos um dia. Todo dia somos uma nova pessoa e não sentimos nem um pouco essa perda, mas quando resolvemos fazer uma análise de nossos sonhos no passado, do que imaginávamos que seria a nossa vida hoje, é que percebemos como os rumos que esperávamos tomar em algum momento se desviou em nosso percurso normal pela vida. Ás vezes ficamos tristes por isso, pois lembramos das nossas perdas, sentimos falta daqueles que ficaram pra trás e algumas vezes nos sentimos orgulhosos por chegar onde chegamos. Mas na verdade, nada disso importa, pois tudo é passageiro na vida e não importa o quanto tentemos permanecer os mesmos ou guardar pessoas conosco, tudo sempre passa. O budismo me ensinou isso, mas foi algo que nunca consegui aprender, a me desapegar, a aceitar a inevitabilidade irracional da vida, nunca consegui na prática, só na intenção. E nesse caso a intenção não vale de nada, ela fica no ar, como um projeto grandioso mental, que nunca chegou a ir para o papel. É aquele plano incrível que você tem de enriquecer, mas que nunca tentou por em prática. Eu não consigo, essa tristeza que me causa o não aceitar a mutabilidade de tudo, é o que me faz também sentir as coisas com muito mais intensidade, buscar sempre mais alguma coisa do mundo, tentar extrair verdades maiores da realidade que vivo, querer voltar nos lugares que amei, querer estar sempre com as pessoas que amo. É essa profusão de sentimentos ambíguos, amar e odiar a vida ao mesmo tempo; a solidão de estar junto; sentir uma felicidade triste; acreditar e não acreditar em Deus; tudo isso é o que me leva a esse desassossego tão incômodo, mas tão essencial para continuar vivendo.
   Mesmo tendo saído do meu roteiro original para filosofar um pouco, volto para o tema original que era "decepções". Quando penso em "decepção" , acho que me vem a cabeça a minha própria pessoa, pois acredito que "se decepcionar" é algo muito pessoal, que reside muito mais em si mesmo do que nos outros. "Se decepcionar", não é algo proporcionado pelo outro, é algo proporcionado por nós mesmos ao criar ideias de como as pessoas deveriam responder a certas situações ou deveriam agir com relação a você. Como dizia antes, o comportamento humano não é algo que possa ser previsto, simplesmente porque você acreditava que determinada pessoa agiria de tal forma em determinada situação ou porque o certo era agir de certa maneira. Minha maneira negativa de ver o ser humano (inlcuindo a mim mesma ai), que eu acredito que seja em parte realista, faz com que eu entenda que é natural para o ser humano ser em alguns momentos egoísta, ganancioso, perverso, cínico, mentiroso, falso, preconceituoso, agressivo, assim como pode ser surpreendentemente tolerante, solidário, amigo, verdadeiro, prestativo, dentre características mais. Mas dificilmente alguém poderá prever em que situações responderemos com uma dessas características. Apesar dos behavioristas (uma linha da psicologia que acreditava poder prever o comportamento humano através de experimentos em laboratório) acreditarem nisso, é fato que qualquer comportamento na vida real, sem ser condicionado de forma intencional para se chegar a um determinado resultado, não poderá ser previsto. Os tipos de personalidades humanas são tão diversos, assim como os momentos que cada pessoa está passando (seu estado emocional e físico), que não seria possível, por mais que realmente seja o que desejássemos, prever as respostas das pessoas a um determinado acontecimento. Logo, "se decepcionar", é simplesmente não entendermos que não importa quantas expectativas coloquemos no outro, ele nunca vai preenchê-las e caso esperemos o contrário, sempre nos frustraremos. E não preciso nem falar das frustrações com a própria vida, pois a natureza e o acaso são ainda mais incontroláveis e imprevisíveis.
   Fecho a minha postagem fazendo uma referência ao título de hoje: quando nada faz sentido, temos que buscar algo que dê sentido a tudo, porque só assim conseguimos responder a outra questão que é "o que estamos fazendo aqui?".

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